segunda-feira, 10 de setembro de 2012


FNT/Guaramiranga

Eu, Marcelo, queria falar enquanto gente... 

Primeiro a pergunta: faz alguma diferença quando a arte que é apresentada se baseou em um fato real, em um episódio verídico?

Hoje, comentei sobre a hierarquização do factual sobre o fictício, no âmbito literário, ao comentar o solo do ator Fábio Vidal (que está em "Salmo 91", sobre quem escrevi a alguns posts), "Sebastião", baseado em um episódio real acontecido na cidade de Maracangalha, no interior da Bahia.

Depois, escreverei a respeito. Reporto um dos pontos que disse na minha intervenção: com o teatro, de certo sentido, esse problema, da validade ou não do ficcional diante de um fato, cai por terra no momento em que o ator sobe no palco e a gente, no tempo em que durar a peça, acreditaremos que ele é Hamlet.

Presumo ter incentiva uma pessoa que não era da área a falar pelo o fato de eu ter dito, a propósito do comentário dos debatedores sobre a validade estética do uso dos letreiros no final do espetáculo, que, pelo fato de já vir de um outro festival, com muitas apresentações, dei-me ao exercício de assistir aos espetáculos sabendo pouco ou quase nada deles e construindo as informações sobre a peça pela própria montagem em si.

Terminada as pontuações dos debatedores, inscrições na plateia - mesmo com o adiantado da hora, com o almoço quase sendo gongado pelos sinos do mosteiro  - depoimento me chamou a atenção.
"Eu queria falar enquanto gente..."
O nome dele é Marcelo. Contou que era cabeleireiro. "Meus amigos me convenceram a vir descansar aqui". Os amigos são do grupo Pavilhão da Magnólia.  Quis dar um depoimento despreendido de referências - que não as tinha - como expressão do que seria, tão somente, público, ou, na expressão dele, "gente".
Isso me fez lembrar de um post antigo da atriz Fernanda D'Umbra que reclamava da falta do que ela chamou, se a memória não me atraiçoa, de "público civil" - gente como o Marcelo, acredito eu.
Fiquei pensando se o público, de alguma maneira, não é resultado do teatro que escolhemos fazer?
Uma pergunta: para quem se faz teatro hoje em dia?

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